Tarcísio precisará ser equilibrista para governar

Governador precisa conciliar bolsonaristas, Centrão paulista e técnicos

Eleito governador de São Paulo com o apoio decisivo do presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas terá que ser um verdadeiro equilibrista para governar com tranquilidade. Ao mesmo tempo que precisa demonstrar gratidão ao seu grande cabo eleitoral, precisa fazer alianças que lhe garantam apoio político na Assembleia Legislativa e montar uma equipe técnica competente que coloque em prática os seus projetos de governo.

Em 7 de abril de 2022, Tarcísio Gomes de Freitas era conhecido por apenas 38% dos eleitores paulista e possuía 10% das intenções de voto. Impulsionado pelo vendaval bolsonarista, terminou o primeiro turno na liderança, com 42,32% dos votos, e foi eleito no segundo turno, com 55,27% dos votos — 13,48 milhões de votos.

A guinada se deu por conta do apoio decisivo do presidente Bolsonaro. Tarcísio era criticado por não ter conhecer o Estado de São Paulo.

Diziam que ele não sabia a diferença entre Ribeirão Preto (uma metrópole do interior paulista com 711 mil habitantes e PIB de R$ 35 bilhões) e Ribeirão Pires (uma pacata cidade da Grande São Paulo com pouco mais de 124 mil moradores). Em entrevista a uma emissora de TV, deu um deslize e confessou não saber ao menos o seu local de votação. Foi acusado pelos adversários de fraudar o domicílio eleitoral.

Com a vitória, a família Bolsonaro apresentou a conta política: participação no governo. De fato, Tarcísio escolheu nomes indicados por Eduardo (leia-se Jair) Bolsonaro, como Guilherme Derrite (PL), capitão reformado da Polícia Militar, ex-Rota, para ser o secretário de Segurança Pública. A escolha causou mal-estar dentro das polícias Civil e Militar: os policiais civis veem a escolha de um ex-PM como um desequilíbrio de forças; na PM, coronéis se sentem desconfortáveis por terem que ser subordinados a um oficial com patente inferior.

Longe do bolsonarismo-raiz

Ao mesmo tempo que busca demonstrar sua gratidão a Bolsonaro, Tarcísio procura também se desvincular da imagem de extremista. Descartou a possibilidade de incluir em sua equipe bolsonaristas radicais como o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o x-secretário nacional de Cultura, Mario Frias. Em entrevista à CNN, Tarcísio declarou: “Nunca fui um bolsonarista-raiz”.

Para garantir um ambiente tranquilo e aprovar os projetos de seu interesse na Assembleia, Tarcísio conta com a experiência do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que foi nomeado secretário de Governo.

Um dos mais hábeis políticos atualmente, Kassab tem a missão de costurar um amplo arco de apoio político que inclui os deputados estaduais (inclusive os que apoiaram outros candidatos na eleição) e as centenas de prefeitos do estado.

A composição da Assembleia Legislativa eleita em 2022 indica uma situação aparentemente confortável para Tarcísio. Os parlamentares de partidos que farão oposição ostensiva (PT, PSOL, PCdoB e PDT) somam 27. Os demais 67 ou já apoiam Tarcísio ou serão facilmente cooptados pela força do governo.

Já integram a base de apoio sólida de Tarcísio os partidos Republicanos (9 deputados), PL (19), União Brasil (8), PSD (4), PP (3) e PSC (2). Outras legendas, como PSDB, MDB e Podemos, já deram sinais que estão abertos ao diálogo —leia-se troca de votos na Assembleia por cargos no governo e liberação de verbas para redutos eleitorais.

Equipe técnica do ministério

Mesmo que consiga conciliar o apetite bolsonarista com a fome dos partidos aliados (o “Centrão” estadual), Tarcísio tem ainda o desafio de fazer seu governo andar. Para isso, precisa colocar quadros técnicos em posições estratégicas da administração — cargos extremamente cobiçados tanto pela ala bolsonarista quanto pelo Centrão estadual.

Neste período de transição, Tarcísio já confirmou nomes de sua extrema confiança, que trabalharam com ele no governo federal. É o caso de Arthur Lima, nomeado como chefe da Casa Civil, e Natália Resende, que será a secretária de Infraestrutura, Meio Ambiente e Transportes.

O desafio de não deixar os pratos caírem

A tendência é que, em algum momento, estas três facções entrarão em choque. Resta saber como Tarcísio vai administrar estas tensões e em que medida elas poderão afetar o desempenho de seu governo.

Tarcísio nem tomou posse mas já é apontado como um candidato a presidente da República competitivo em 2026, representando a ala mais conversadora do espectro político. Resta saber se ele vai conseguir ser um bom equilibrista —principalmente no trato do prato bolsonarista, certamente o mais pesado de todos.

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